Cruz esculpida ao lado de gravura ajudaria a afastar feitiço do "diabo"
Varvara GrankovaNariz do Diabo, Carélia
À primeira vista, esse cabo pitoresco na margem oriental do lago Onega (o segundo maior lago da Europa, a 700 km a noroeste de Moscou) parece apenas mais um local bonito onde os moradores de aldeias vizinhas caçam e pescam. Aparentemente, não há nada diabólico em relação a ele; mas isso apenas em um primeiro momento.
Quando os monges ortodoxos chegaram a essa região no século 16, descobriram um cabo decorado com inúmeras gravuras rupestres deixadas por povos antigos.
Um dos petróglifos, o segundo maior deles (com 2,46 metros de comprimento), retrata, porém, “o diabo” sob a forma de uma criatura antropomórfica gigantesca com cabeça quadrada. Os monges temiam tanto essa imagem que esculpiram uma cruz enorme perto da gravura, na esperança de que Jesus “vencesse a feitiçaria pagã”.
Os arqueólogos examinaram os petróglifos do Nariz do Diabo por vários anos e estimam que os desenhos tenham aproximadamente 5.000 anos. As pessoas que os abandonaram eram provavelmente antepassados dos atuais finlandeses e carelianos, e é difícil supor se os petróglifos têm algum poder místico obscuro. Ninguém vive nos arredores do Nariz do Diabo há décadas; a última vila desapareceu nos anos 1970.
Arkaim, região de Tcheliabinsk
Névoa noturna sobre o acampamento turístico na reserva histórica e cultural de Arkaim (Foto: Pável Lisitsin/RIA Nôvosti)
Descoberto no final da década de 1980, o antigo vilarejo de Arkaim está localizado literalmente no meio do nada. As escavações prosseguem desde os anos 1990.
Arkaim era um lugar vibrante algum momento do terceiro ou segundo milênio a.C. – os vestígios mostram que se tratava de uma cidade grande, com uma praça central, protegida por muros da fortaleza e um fosso. Segundo os historiadores, os moradores locais eram sedentários (incomum para os povos de estepe na época) e criavam gado.
A cidade antiga continua a ser um tesouro científico, mas os pseudocientistas a veneram ainda mais. Muitas lendas afirmam que Arkaim era “a cidade do Sol”, o berço de todas as civilizações e que seus habitantes eram os “verdadeiros russos”. Diante dessa concepção, os russos seriam os antepassados de toda a humanidade, mas os historiadores sérios permanecem céticos em relação a tais teorias.
Instalação artística ‘Campo das Maravilhas’, do vanguardista Jean-Erik Kullberg, na reserva histórica e cultural de Arkaim (Foto: Pável Lisitsin/RIA Nôvosti)
Planalto de Ukok, Altai
Os moradores de Altai acreditam que o planalto de Ukok, no sul da república (a 3.100 km a leste de Moscou), seja sagrado. Por ser o local onde vivem as almas de seus antepassados, essa região exige um profundo respeito. É, inclusive, proibido falar alto ali para “não perturbar os mortos”. No entanto, foi justamente isso que fizeram os arqueólogos em 1993, quando encontraram uma múmia bem preservada de uma mulher que havia morrido há aproximadamente 2.500 anos.
Os jornalistas a apelidaram de “princesa Altai” – já que, de certo modo, ela pertencia à nobreza local.
Reprodução de ‘O planalto de Ukok” (1989), do artista Iúri Korobeinikov (Foto: Serguêi Samokhin/RIA Nôvosti)
Os cientistas transportaram a “princesa” para Novosibirsk (2.800 km a leste de Moscou), que possuía instalações adequadas para estudar a múmia. Mas isso gerou revolta entre os habitantes de Altai. Para eles, a mulher mumificada tinha poderes místicos e estava protegendo a região; portanto, tirá-la causaria calamidades.
O desentendimento entre as partes durou quase duas décadas. Em 2012, a múmia foi devolvida à República de Altai. Os habitantes, porém, acreditam que a mulher, que eles chamam de Ak-Kadyn, ainda está brava e é por isso que ocorrem catástrofes na república (como a inundação em 2014, quando várias pessoas morreram).
Múmia seria de mulher morta há aproximadamente 2.500 anos (Foto: TASS)
Vale com ossos de baleia, Tchukotka
É difícil encontrar um lugar mais remoto na Rússia que a ilha Ittigran, perto da costa de Tchukotka (cerca de 6.500 km a leste de Moscou). A ilha é deserta, mas ainda mantém alguns vestígios da presença humana.
A costa está decorada com dezenas de mandíbulas da baleia-da-groenlândia, posicionadas em rigorosa ordem geométrica – e cada osso mede mais que cinco metros.
Na Idade Média, os esquimós construíram essa estranha composição arquitetônica (que também incluía pirâmides de crânios de baleia). Mas eles não viviam na ilha; o monumento era visto apenas como um santuário pelos povos da região.
Esta reportagem faz parte da série “Arquivo X da Rússia”, na qual a Gazeta Russa explora enigmas, mistérios e anomalias relacionadas com o país.
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