Aleksandr 1º ou Fiódor Kuzmitch? Homem misteriosoera idêntico ao falecido imperador, segundo relatos
“Uma esfinge que permaneceu um enigma até o túmulo” é a descrição feita por Piotr Viázemski, poeta russo do século 19, sobre o tsar Aleksandr 1º.
O imperador, que herdou o trono após o assassinato de seu pai, Pável, tinha muito a esconder, e suas visões de mundo mudaram dramaticamente ao longo da vida.
Aleksandr começou ogoverno como um liberal entusiasmado em implementar reformas, estabelecer o parlamento, a constituição e abolir a servidão.
No fim, contudo, ele decidiu se afastar de grandes mudanças para manter a aristocracia satisfeita, e as reformas foram abortadas ou ficaram incompletas.
Isso não quer dizer que seu reinado não tenha sido bom. Afinal, foi sob sua liderança que a Rússia derrotou o exército de Napoleão, o império francês e até mesmo ocupou Paris.
Mas, no fim da vida, Aleksandr estava apático e passava seus dias rezando, deixando o governo da Rússia na mão de seus ministros. Talvez por isso sua morte repentina tenha gerado tantas dúvidas na sociedade.
Morte misteriosa
De acordo com a versão oficial, Aleksandr morreu de febre tifoide em novembro de 1825 na cidade de Taganrog, 954 km a sul de Moscou.
Segundo o historiador Andrêi Sákharov, da Academia de Ciências da Rússia, o imperador tinha apenas 47 anos e uma boa saúde na época da morte.
O corpo de Aleksandr foi colocado em um caixão, e quase ninguém viu seu rosto. Algumas pessoas que puderam ver o cadáver, disseram que ele não se parecia com o imperador.
Pode haver uma explicação simples para isso: o transporte do corpo até São Petersburgo levou quase dois meses, então sua aparência pode ter mudado nesse período.
Mas por que um imperador deixaria seu trono? Sákharov acredita que Aleksandr sofria com a culpa, e há fortes evidências de que ele havia tomado conhecimento da conspiração que resultou na morte de seu pai e lhe rendeu o trono.
Isso pode ter transformado seu reinado insuportável, principalmente depois que se converteu ao cristianismo ortodoxo, quando tinha cerca de 40 anos.
Velho homem de lugar nenhum
Em 1836, mais de dez anos depois da morte de Aleksandr, um estranho homem apareceu próximo a Perm, 1.130 km a leste de Moscou. Alto, com barba e cerca de 60 anos, o homem foi detido pela polícia porque não conseguiu explicar sua identidade e de onde vinha.
A única coisa que ele informou às autoridades foi o nome, Fiódor Kuzmitch. Ele foi então enviado para a Sibéria e pareceu ficar contente com a decisão, estabelecendo-se próximo a Tomsk (2,8 mil km a leste de Moscou).
Kuzmitch viveu por muitos anos e morreu em janeiro de 1864. Como um devoto cristão, estava sempre pronto a ajudar seus vizinhos e logo conquistou a admiração de todos com sua sabedoria e bondade. Ele era tratado como um respeitado ancião, quase como um santo.
É difícil distinguir entre verdade e lenda ao se deparar com testemunhos sobre Fiódor Kuzmitch. Ele nunca mencionou seu passado, mas acredita-se que falava francês fluente, o que ele demonstrou conversando com oficiais.
Ele contava histórias sobre a vida em São Petersburgo e sobre a Guerra Patriótica de 1812, falando sobre comandantes russos como se os conhecesse pessoalmente.
Além disso, vários soldados que já haviam servido na capital diziam que Kuzmitch era idêntico ao falecido imperador.
A lenda permanece
Mesmo 150 anos após a morte de Kuzmitch ninguém conseguiu provar sua relação com Aleksandr 1º. Em seu livro sobre o desaparecimento do imperador, o historiador Alexis Troubetzkoi diz que, mesmo em meados do século 20, aristocratas russos que viviam em Paris acreditavam que Aleksandr 1º não tinha morrido em 1825 e viveu o resto de seus dias na Sibéria como Fiódor Kuzmitch.
Enquanto muitos acreditam que os dois homens eram a mesma pessoa, pode haver provas em contrário. Por exemplo, Kuzmitch era conhecido por usar expressões típicas da Ucrânia e do sul da Rússia, que Aleksandr, tendo nascido e vivido em São Petersburgo, dificilmente conheceria.
Até hoje, nenhuma investigação genética pôde esclarecer a questão. De acordo com o antropologista russo Mikhail Gerássimov, o governo constantemente se recusa a abrir o túmulo de Aleksandr 1º para fazer um teste de DNA e comparar seu material ao de outros Romanov.
Por enquanto, a lenda que cerca a morte de Aleksandr e sua suposta fuga para a Sibéria permanece viva.
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