“Barril voador”, o avião que transportava nave espacial

Legion Media
Como carregar um avião com carga superior à sua capacidade e ainda assim fazê-lo voar.

O ano era 1973. Os soviéticos anunciaram a criação do mais caro e grandioso projeto da história da indústria espacial do país – o Buran. A nave precisava se tornar algo parecido com o que Elon Musk só conseguiu atingir 45 anos depois com a Crew Dragon. Mas o ambicioso projeto exigia a criação de uma infraestrutura não menos arrojada. Uma questão crucial era como realizar o transporte do Buran e do foguete transportador do chão da fábrica até o cosmódromo de Baikonur, na estepe cazaque.

Buran

Um avião de carga para o Buran – que havia sido concluído e estava pronto para testes – ainda não existia. A coisa mais próxima disso seria o Mria, ainda em desenvolvimento.

Concentrar todos os processos tecnológicos nos entornos do cosmódromo estava fora de questão. A fabricação da indústria espacial se espalhava por todo o país, sem um polo único de produção. Levar o Buran ao cosmódromo por rede ferroviária era tecnicamente impossível, devido ao seu peso extremo. E o transporte por água teria sido muito caro.

3MS-2 na base aérea de Engels

Portanto, no início da década de 1980, surgiu a ideia de criar um avião de carga pesada para transportar naves espaciais Buran. 

A base escolhida para a aeronave foi a do primeiro bombardeiro estratégico soviético, o 3M-1, que atuava como dissuasor nuclear contra norte-americanos havia mais de 30 anos.

Atlant

A base foi modificada, e o veículo acabou sendo renomeado para VM-T Atlant – embora o apelido não oficial fosse “barril voador”, devido à fuselagem, à qual era anexado um contêiner de carga arredondado.

No entanto, sua capacidade máxima de carga não ultrapassava 50 toneladas, o que era inferior a um Buran totalmente abastecido. No fim das contas, a espaçonave teve que perder alguns equipamentos para reduzir seu peso a 45 toneladas.

Foguete e sistema espacial Enérguia, que inclui foguete transportador e espaçonave Buran

O cosmódromo de Baikonur planejava receber cargas futuras de até 200 toneladas, mas a ideia de transportar 50 toneladas a bordo de um avião que não era explicitamente destinado à missão despertou ceticismo de muitos.

Porta-aviões Atlant, 1990

A enorme carga no lombo do Atlant exercia forte efeito em suas propriedades aerodinâmicas, de modo que cada voo de teste era uma experiência nova. Cada tipo de carga tinha que passar por cálculos meticulosos, incluindo onde na fuselagem melhor posicioná-la para manter a estabilidade do avião. Muitos pensaram que o veículo simplesmente não voaria.

No entanto, o Atlant passou nos testes e começou a transportar cargas a partir de 1981, com um total de duas iterações e 150 voos de teste e comerciais.

Ilustração do

Curiosamente, o Atlant – que era para ser uma solução temporária para o transporte das naves Buran – havia, entretanto, se tornado uma solução permanente. Mas o programa espacial Enérguia-Buran chegou ao fim em 1993. O próprio Buran só esteve no espaço uma vez em toda a sua história. Paralelamente, o chamado cosmódromo voador Mria nunca foi usado para seu propósito original, realizando uma variedade de missões estranhas e ad hoc, entre elas o transporte de girafas e um iate do rei espanhol.

Os dois Atlants, entretanto, estão sem função nos dias de hoje: um deles está estacionado em um aeródromo perto de Riazan, enquanto o outro está parado em uma garagem em Jukóvski, nos arredores de Moscou, embora faça ocasionalmente uma aparição no show aeroespacial MAKS como peça de museu.

LEIA TAMBÉM: Como os soviéticos fotografaram o “lado oculto da Lua” e ganharam 1.000 garrafas de champanhe

Caros leitores e leitoras,

Nosso site e nossas contas nas redes sociais estão sob ameaça de restrição ou banimento, devido às atuais circunstâncias. Portanto, para acompanhar o nosso conteúdo mais recente, basta fazer o seguinte:
Inscreva-se em nosso canal no Telegram t.me/russiabeyond_br

Assine a nossa newsletter semanal

Ative as notificações push, quando solicitado(a), em nosso site

Instale um provedor de VPN em seu computador e/ou smartphone para ter acesso ao nosso site, caso esteja bloqueado em seu país.

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Leia mais

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies