O que poderia ser mais relevante no início desta década do que uma série sobre uma epidemia mortal? Um estranho vírus se espalha repentinamente com extrema rapidez pela Rússia, incluindo Moscou. Os sintomas da infeção incluem rápida infecção pulmonar, tosse com sangue e olhos vitrificados – na verdade, as pessoas se transformam em uma espécie de zumbi.
A única maneira de se proteger é fugindo das grandes cidades; e no caso dos protagonistas, da capital russa – eles decidem se dirigir a um lago remoto ao norte, onde conhecem um abrigo abandonado. Mas a viagem até lá é a parte desafiadora, porque todas as fronteiras de Moscou estão fechadas, as pessoas estão enlouquecidas de medo, e há milícias armadas por todos os cantos.
O enredo eletrizante se desenvolve ao lado do drama pessoal e familiar. Afinal, não seria a Rússia se os personagens não sofressem. O protagonista, Serguêi, tem que salvar a sua atual e a ex-mulher – e encontrar um equilíbrio entre as duas não é fácil, já que a ex o manipula usando o filho.
Esta série segue as melhores tradições do suspense. Zumbis e criminosos são apresentados de forma realista, e a cinematografia mantém tensão permanente. Além do medo, a história suscita compaixão pelos personagens principais, que precisam tomar decisões difíceis: por exemplo, o que fazer se a sua mãe se infectasse e tentasse entrar em sua casa?
A produção reúne alguns dos mais proeminentes atores russos, e todos estão excelentes em seus papéis. Mariana Spivak, famosa por seu papel em “Sem Amor” (2017), de Andrei Zvyagintsev, interpreta uma ex-esposa encrenqueira, enquanto a multipremiada Viktoria Isakova encarna a nova esposa de Serguêi. Aleksandr Robak, que faz o papel do vizinho, retrata o estereótipo do machão cheio de bravezas e piadas inconvenientes, mas, no fundo, não é má pessoa.
Outra estrela recente da indústria cinematográfica russa é Aleksandr Iatsenko, que interpreta aqui um médico, assim como em seu papel premiado para o filme “Arritmia” (2017). A atuação circunstancial, porém ótima, de Anna Mikhalkova, filha do famoso diretor Nikita Mikhalkov, merece menção.
As pessoas e a sociedade na Rússia moderna são retratadas de forma bastante realista e em diversos níveis – além dos estilos de vida luxuoso e da classe média de Moscou, tem-se um vislumbre de moradores comuns dos rincões da Rússia, bem como da realidade dos socorristas. Mas todos os personagens, ainda que corriqueiros, trazem várias camadas.
Também há imagens belíssimas do país, que oferecem aos espectadores uma noção maior da vastidão do território russo, incluindo antigas casas de madeira, estradas cobertas de neve, cidadezinhas interioranas, clubes de karaokê à beira da estrada, ou até mesmo densas florestas. E o destino final da fuga dos personagens – um abrigo remoto no meio de um lago da Carélia – é simplesmente um milagre da natureza.
Se tudo isso não bastasse para atrair espectadores, outro motivo convincente para assistir à série é o fato de ser baseada em um grande exemplar da literatura russa moderna. Adaptada por Pável Kostomarov, ‘Cidade dos Mortos’ é baseada no romance “Vonglake”, da jovem escritora Iana Vagner. Vonglake é o nome do lago na República da Carélia, no norte da Rússia, que os personagens estão tentando alcançar para se proteger da epidemia.
Os escritores russos sempre foram bons em distopias e suspense. Quem poderia esquecer, por exemplo, o sucesso do “Metro 2033”, de Dmítri Glukhôvski?
Em uma publicação no Twitter na época do lançamento da série, o famoso autor de suspense Stephen King chegou a elogiar a produção:
3 more things to know about TO THE LAKE:
— Stephen King (@StephenKing) October 11, 2020
1. Think spaghetti western, only with snow and plague-infested killer Russians.
2. The cinematography is cool. Some stuff is filmed upside-down. Why? Dunno.
3. The kid is still a pain in the ass.
Nas palavras de Stephen King, há “3 coisas mais para saber sobre CIDADE DOS MORTOS:
1. Pense em faroeste macarrônico, mas com neve e russos assassinos infestados por peste.
2. A cinematografia é legal. Algumas coisas são filmadas de cabeça para baixo. Por quê? Não sei.
3. A criança é, contudo, um saco.”
A segunda temporada de ‘Cidade dos Mortos’ já foi lançada na Rússia em 2022, porém não há previsão de estreia nas plataformas de streaming globais.
LEIA TAMBÉM: Todos os filmes e programas russos na Netflix do Brasil
Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: