Composer Sergei Prokofiev.
RIA NóvostiO dia 23 de abril marca o aniversário de nascimento notável compositor russo Serguêi Prokôfiev. Suas músicas ainda hoje estão entre as mais demandadas do mundo, junto com os clássicos vienenses e compositores alemães da era romântica.
A “Dança dos Cavaleiros”, do balé “Romeu e Julieta”, ou a valsa de Natacha, da ópera “Guerra e Paz” são incorporados a trilhas sonoras de jogos de computador e toques de telefone na atualidade. Mas, há apenas 50 anos, sua música era considerada inovadora e ousada.
O destino de Prokôfiev parece todo um paradoxo - mas só à primeira vista. Nascido em uma era de cataclismos globais, ele só se interessava por uma coisa: música. E a própria.
Da aldeia russa às temporadas de Paris
Se Prokôfiev tivesse vivido em nossa época de infinitos programas de TV, ele obrigatoriamente teria que responder à pergunta: "O que você seria se não fosse compositor?" E ele talvez respondesse: "Fui um pianista excepcional, venci o grande mestre cubano Capablanca no xadrez, mas, desde jovem, aspirei apenas a que minha música fosse a mais tocada do mundo."
Em uma de suas primeiras fotos conhecidas, há um menino de nove anos vestido de marinheiro sentado diante de um piano no qual há partituras com uma inscrição claramente distinguível: “Ópera Gigante, comp. de Seriôja [apelido de Serguêi] Prokôfiev”.
Dois anos mais tarde, o jovem e exitoso compositor Reinhold Glière foi convidado a ensinar composição à criança. Quando Prokôfiev tinha 13 anos de idade, sua mãe, que acreditava piamente no grande futuro do filho e também era uma grande musicista, o tirou da remota província russa onde viviam e o levou para São Petersburgo. Ali, ele entrou no conservatório, onde estudou com os melhores músicos de sua época, entre os quais Nikolai Rímsky-Kórsakov, ícone da ópera russa.
Aos 16 anos, Prokôfiev formou-se no departamento de composição musical do conservatório (alguns anos, ele depois recebeu o diploma de pianista). Seu diploma veio acompanhado não apenas de uma medalha de ouro, mas também de várias obras importantes e da reputação como uma das principais esperanças da arte russa.
Ele logo chamou a atenção do maior editor musical russo, Boris Iurguenson, e, depois de alguns anos, de Serguêi Diaghilev, o lendário empresário do balé, encomendou dele a partitura de seus “Ballets Russes” em Paris.
Fuga para os EUA e retorno à Rússia
Essa carreira meteórica poderia ter sido arruinada pela Primeira Guerra Mundial e pela Revolução Bolchevique. Foi o que aconteceu na época com muitos que pareciam ter um grande futuro. Mas Prokôfiev tinha não apenas talento para criar seu universo musical, mas também a capacidade de defendê-lo.
Enquanto seus colegas hesitavam sobre o que fazer e onde viver, Prokôfiev escolheu os Estados Unidos. Naquele momento, aquele era o único lugar onde o compositor podia se dedicar exclusivamente a sua arte. Sua música, um estilo novo, com dissonâncias e harmonia fora do padrão, parecia demasiado complicada a muita gente. Até mesmo seu raro dom de fascinar nem sempre ajudava Prokôfiev a promover essa nova música.
Então, veio a seu socorro o virtuosismo pianístico: ao firmar um contrato para um concerto de piano, ele inseriu no programa as suas próprias composições. Nesse período, ele criou não apenas concertos para piano, mas também as óperas “O Amor das Três Laranjas” e “O Anjo de Fogo”, as Sinfonias nº 2 e nº 3, e o balé “O Filho Pródigo”, que até hoje estão entre suas composições mais populares.
Mesmo assim, na década de 1930, Prokôfiev compreendeu que o primeiro lugar entre os compositores tinha sido reservado no Ocidente para outro russo: Igor Stravinsky. Depois de voltar em visita três vezes à URSS e compará-la à Europa e aos EUA, Prokôfiev viu vantagens na pátria, com seu enorme público, salas de concerto em construção e orquestras recém-criadas. Sua trajetória a partir daí abalou o mundo da cultura no Ocidente: em 1936, ele retornou à União Soviética com a mulher e os dois filhos.
Ali, Prokôfiev tornou-se o principal compositor do país, quase não conseguindo entregar tudo o que lhe era encomendado: desde os teatros Marínski e Bolshoi até o diretor de cinema Serguêi Eisenstein. Ele chegou até mesmo a abrandar o forte estilo que lhe era característico para ficar em conformidade com as ideias sobre música do realismo socialista que reinava no país.
Elas não o assustavam, assim como as encomendas ideológicas: ele escreveu, ao mesmo tempo, o grotesco conto de fadas “Pedro e o Lobo” e a Cantata para o 20º aniversário da Revolução de Outubro, com falas de Marx, Engels, Lênin e Stálin, assim como a peroração “Zdravitsa”, para o aniversário de 60 anos de Stálin, na qual continuou a desenvolver suas ideias musicais.
Mas nem os três prêmios estatais “Stálin” que ele ganhou em 1946 evitaram que o compositor fosse vítima das perseguições: sua arte foi considerada ideologicamente alheia ao realismo socialista após a ópera de V. Muradeli “A Grande Amizade” ser encenada no Teatro Bolshoi, onde o libreto apontava para as tensas relações entre os russos e povos do Cáucaso do Norte.
Verdade é que os balés de Prokôfiev e a ópera “Guerra e Paz” ainda eram apresentados nos principais palcos russos e, alguns anos depois, seguiu-se outra onda de encomendas e um novo “Prêmio Stálin”.
Porém, o compositor não conseguiu se recuperar do abalo. Ele inclusive morreu no mesmo dia que Stálin, e por isso sua morte passou despercebida. Mas, em termos concretos, Prokôfiev teve uma sobrevida: sua música ressoa ainda hoje mundo afora e desconhece fronteiras.
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