Banda russa que misturava contos de fadas com punk rock nos anos 90 volta a ganhar popularidade

Gorchok e Kniaz.

Gorchok e Kniaz.

Maksim Cheremetov/TASS
O chamado horror-punk surgiu no final dos anos 1970 nos Estados Unidos, mas ganhou seu verdadeiro lugar ao sol na Rússia, e isso tudo se deve a uma única banda: a "Korol i Chut" (O rei e o bobo da corte").

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Em meados dos anos 1990, as canções "Lesnik" (que falava sobre lobos canibais) e "Kukla kolduna" (sobre uma garota vítima da magia negra), da banda "Korol i Chut" (O rei e o bobo da corte") tocavam por toda parte. Mas os gostos mudaram, gerações passaram e a música também.

De repente, porém, os hits da "Korol i Chut" estão de volta às paradas, e uma série sobre a história da banda está batendo recordes de público - com uma mãozinha do TikTok.

Punks de Bremen

Público da banda.

No início dos anos 1990, o punk russo tinha tomado várias cidades como sedes. As eternos rivais Moscou e São Petersburgo iam do ska-punk ao noise. Mesmo assim, São Petersburgo se destacava com seu grupo “O rei e o bobo da corte”.

Suas músicas não continham nenhuma crítica social, nenhuma obscenidade. Eles eram simpáticos ao anarquismo, ao punk drive e às jaquetas de couro, elementos que misturavam com contos de fadas e temáticas fantásticas em sua poética.

Gorchok.

Cada música era um pequeno musical sinistro, que ainda incluía solo de violino: algo completamente inédito no punk!

Ambos os líderes da banda, Andrêi Kniázev (apelidado de "Kniaz", ou seja, "rei") e Mikhail Gorchenev (Gorchok, ou seja, "vaso"), citavam o musical em áudio-livro soviético "Os músicos de Bremen" (de 1969) como o primeiro disco de rock que ouviram.

Assim, a banda "O rei e o bobo da corte" se inspirava no folclore da Europa Ocidental: feiticeiros, bruxas e vampiros.

Pulando de um penhasco

Em poucos anos, “O rei e o bobo da corte” virou uma das bandas de rock mais famosas do país. Eles lotavam os maiores estádios, foram manchete nos principais festivais, abriram os shows de The Stranglers e The Exploited, e ganharam o prêmio MTV Rússia.

Kniaz.

No ano de 2000, a música "Ia prignu so skali" (Vou pular do penhasco) ficou no primeiro lugar da principal estação de rádio de rock russa, a "Nashe Radio", por meio ano.

No top 500 das melhores músicas de rock russo (de acordo com a mesma estação de rádio), a música ficou na 19ª posição, enquanto a primeira foi ocupada por "Lesnik", da mesma banda.

À medida que a popularidade do grupo crescia, porém, ele ganhava a odiosa reputação de "banda de gópniks" - ou seja, baderneiros urbanos que iam aos shows para dançar, beber cerveja e brigar. Os críticos de música os tratavam com desdém e, mesmo entre os fãs de rock, era mal-visto dizer gostar da banda.

Mas a própria banda era dividida por contradições. Gorchok, por exemplo, queria mais maximalismo punk e um som mais pesado, no espírito do The Exploited. Ele admitia publicamente que odiava as músicas folk-rock da própria banda "Vou pular do penhasco" e "Boneca do feiticeiro", escritas e executadas por Kniaz sem Gorchok. Foram, porém, exatamente estas músicas que tiraram a banda da obscuridade e lhe renderam popularidade entre multidões de russos.

Gorchok e o guitarrista da banda.

Além disso, Gorchok não gostava  do formato curto dos contos de fadas: ele sonhava, inspirado pelo filme de Tim Burton sobre Sweeney Todd, em fazer um verdadeiro musical sobre o assassino em série. Kniaz se recusou a participar e deixou a banda em 2011 para formar outra.

No final das contas, Gorchok compôs uma ópera de terror Sweeney Todd e fez o papel principal nela, mas morreu logo depois, no verão de 2013. Sua morte aconteceu três semanas antes de ele completar 40 anos. Com isso, a banda “O rei e o bobo da corte” deixou oficialmente de existir.

Punk renascentista

Fãs do grupo.

Mesmo que o auge de sua popularidade tenha sido nos anos 2000, suas músicas continuaram a ser hits nas rádios e os torcedores do clube de futebol Zenit até incorporaram uma frase de efeito da música de "Boneca do Feiticeiro".

Лидер группы

No início da década de 2020, porém, “O rei e o bobo da corte” passou a viver, de repente, uma nova onda de popularidade. Ela se iniciou com um cover no programa de TV "The Voice" que teve 1,6 milhão de visualizações no YouTube. Em janeiro de 2021, o vencedor do festival europeu de música "Eurovisão", Aleksandr Ribak, tocou-a no violino, e seu vídeo no TikTok teve mais de 300 mil visualizações.

A canção de repente ficou viral. Os vídeos no TikTok com a hashtag #korolishut já têm 50,4 milhões de visualizações, e com a hashtag #kuklakolduna, 144,1 milhões. Os hits se tornaram memes, viraram fonte de covers e vídeos diversos nas redes sociais.

Enterro de Gorchok.

O "KinoPoisk", um dos maiores serviços de vídeo do país, lançou um filme de oito partes sobre a carreira da banda. A série leva o nome da banda “O rei e o bobo da corte” e foi lançada em março. Seus dois primeiros episódios foram assistidos por mais de 1,3 milhão de assinantes em apenas seis dias - um recorde absoluto para a plataforma.

Agora, a própria banda faz um retorno triunfante às paradas musicais. No início do mês, as três primeiras posições do serviço de distribuição de música local Yandex Music (lembrando que o Spotify e saíram do país desde 2022) foram ocupadas pelas canções de "O rei e o bobo da corte", e nada menos que 22 músicas da banda estavam no top-100 desse ranking.

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