Surikov nasceu na cidade de Krasnoiarsk, na Sibéria Oriental, e se apaixonou pela pintura ainda na infância. A família não tinha dinheiro para enviar o filho para estudar na capital, na principal instituição artística do país, a Academia de Artes de São Petersburgo, e o menino se formou pela escola distrital e conseguiu um emprego no governo provincial.
Por um acaso do destino, porém, o filantropo e minerador de ouro de Krasnoiarsk, Piótr Kuznetsov, viu os desenhos de Vassíli e decidiu pagar pela educação de Surikov na Academia de Artes de São Petersburgo. Foi Kuznetsov quem adquiriu a primeira obra de peso do artista: “Vista do monumento a Pedro, o Grande, na Praça do Senado, em São Petersburgo”.
Como todos os estudantes da Academia de Artes de São Petersburgo, Surikov começou com pinturas dedicadas a assuntos bíblicos. O quadro “Bom Samaritano” retrata o momento da parábola em que o Bom Samaritano se inclinou sobre um homem em perigo para ajudá-lo. Surikov pintou a paisagem desértica a partir de seus esboços das quentes estepes de verão do sul da Sibéria.
Pela pintura, o artista recebeu a pequena medalha de ouro da Academia de Artes e presentou com o quadro seu patrono, Kuznetsov, como forma de agradecimento.
Esta pintura tem 2,1 x 3,7 metros e foi a primeira obra de Vassíli Surikov sobre a história russa – além de sua primeira tela de grande formato exibida ao público.
A pintura foi apresentada pela primeira vez na 9° Exposição dos Itinerantes, em 1881, em São Petersburgo. O mais famoso colecionador de arte russo de todos os tempos, Pável Tretiakov, levou-a diretamente da exposição para sua coleção.
Surikov retratou um dos momentos decisivos da história russa. Em 1698, enquanto Pedro, o Grande, estava na Europa, quatro regimentos de “streltsi” (antigas unidades militares russos que faziam parte do exército) organizaram um motim. O tsar então expressou uma forte reação à revolta.
Pedro viu o levante não como um protesto social e econômico, mas como uma tentativa de golpe de Estado por parte de sua irmã e ex-regente, a tsarevna Sofia. Após serem torturados, 799 “streltsi” foram executados publicamente — alguns deles, em Moscou, na Praça Vermelha.
Surikov retrata nesta pintura o início da manhã antes da execução dos “streltsi”, no outono de 1698. Os eventos ocorrem na Praça Vermelha, em Moscou. Os condenados são conduzidos a uma forca que está diante do muro do Kremlin. Uma multidão heterogênea e desarticulada, composta por “streltsi” (vestidos com camisas brancas da morte), suas famílias e simples espectadores, contrasta com a linha uniforme dos soldados do novo regimento de Pedro e do próprio imperador.
"Não retratei sangue no quadro, e nele a execução ainda não começou", afirmou Surikov. O artista, propositalmente, não retratou na trama da execução um único homem enforcado.
Leia uma análise detalhada deste quadro de Surikov aqui.
Esta pintura também foi recebida com grande entusiasmo na Exposição dos Itinerantes e foi imediatamente adquirida por Tretiakov. Neste quadro Surikov descreve outro episódio da história russa, quando o outrora mais influente camarada de armas do imperador Pedro, o Grande, e segunda pessoa mais importante da Rússia, Aleksandr Menchikov, após a morte de seu patrono, de repente acabou exilado na Sibéria.
Surikov se interessou pela história da queda de Ménchikov, que não se curvou mesmo diante de tantas humilhações. Na tela, o membro da nobreza surge imponente, mesmo sentado em uma pequena cabana na Sibéria, impossibilitado de sair na rua por causa da neve e do mau tempo.
O artista teve a ideia para este quadro espontaneamente enquanto esperava, com a família à mesa, o fim de uma forte chuva. Foi quando a imagem de Ménchikov lhe veio à mente, viva e cheia de detalhes.
A modelo para a filha de Menchikov, sentada a seus pés, foi a esposa de Surikov, Elizaveta.
Esta pintura causou sensação e atraiu grande interesse em 1887, quando foi exibida pela primeira vez. Seus contemporâneos fizeram comentários controversos sobre essas pinturas históricas, mas todos concordavam em um ponto: elas eram um reflexo realista e incrivelmente talentoso da “Velha” Rússia dos tempos pré-petrinos, com toda a sua autenticidade.
Mas como um artista do final do século 19 poderia ser tão preciso? O fato é que Vassíli Surikov cresceu na Sibéria, onde viviam muitos Velhos Crentes. Na época, eles ainda eram legalmente aceitos pela sociedade e eram descendentes dos Velhos Crentes que foram exilados no século 17, por causa de sua compreensão da fé depois do Cisma. Foi lá que Surikov conheceu a história de Morozova, considerada pelos Velhos Crentes sua santa e mártir.
Na década de 1650, o Patriarca Nikon iniciou as reformas que causaram um Cisma da Igreja Russa. Embora o tsar tenha apoiado as mudanças, não foram todos os nobres que compartilharam dessa posição – este era o caso de Morozova.
Assim ela passou a integrar o grupo dos Velhos Crentes, ou seja, a ser uma protestante da Igreja oficial.
Junto com sua irmã, a boiarina foi algemada (o que era impensável para uma mulher nobre na época) e transferida para um mosteiro em Borovsk, nos arredores de Moscou. Pela proximidade com membros da nobreza, incluindo gente da família real, ela não foi queimada viva, mas acabou compelida a morrer de inanição.
Surikov procurou protótipos para esse quadro em mosteiros e cemitérios, e passou muito tempo fazendo esboços. O protótipo de Morozova foi a tia de Surikov .
Leia uma análise mais detalhada desta obra-prima de Surikov aqui.
Em 1878, Surikov, aos 30 anos de idade, casou-se com Elizaveta Chara, uma bela nobre que era 10 anos mais nova e falava russo com um leve sotaque francês. O artista estava loucamente apaixonado e Elizaveta deu à luz duas filhas. Mas ela tinha uma saúde muito frágil e sofria de reumatismo e problemas cardíacos e, cerca de 10 anos após o casamento, morreu, deixando Surikov em desespero. Segundo a filha do artista, ele chorava, lia a Bíblia e ia constantemente ao cemitério.
“A captura da fortaleza de neve” foi a primeira pintura de Surikov após a longa depressão. Brilhante e alegre, este quadro difere de suas sombrias pinturas históricas. Ele tinha observado a tradição de capturar fortalezas de neve na Sibéria e desenhou seus parentes e conhecidos no quadro. Por esta pintura, Surikov recebeu a medalha de bronze na Exposição Internacional de Paris em 1900.
A maior tela de Surikov (2,85 x 5,99 metros) reúne os dois principais interesses do artista: os cossacos e a Sibéria. O artista procurava protótipos dos cossacos nas cidades do rio Don, pintou tártaros na região de Khakássia e encontrou uma paisagem para a pintura na Sibéria.
A obra foi apresentada na Exposição dos Itinerantes e foi altamente elogiada por outro artista russo, Iliá Répin. Surikov já havia concordado com Tretiakov sobre a venda do quadro, mas o imperador Nicolau 2º cravou sua opinião: “esta pintura deveria ser nacional e estar no Museu Russo”. Foi assim que o tsar a comprou por uma quantia recorde para a arte russa: 40 mil rublos. Surikov presenteou a Tretiakov uma pequena cópia do quadro.
Este quadro é dedicado ao 100º aniversário da campanha militar de Suvorov contra os franceses. Nele, o comandante de 70 anos parece um verdadeiro herói popular em um cavalo branco, enquanto seus soldados descem rapidamente de montanhas. A pintura, que retrata de forma vantajosa o glorioso passado militar nacional, também foi comprada pelo imperador Nicolau 2º.
Surikov fez uma verdadeira imersão nos estudos para criar esta obra, indo à Suíça para fazer esboços e estudando minuciosamente os uniformes militares.
No entanto, a imagem contém algumas divergências com a verdade histórica: em particular, o especialista em pintura de batalhas Vassíli Verescháguin observou que o cavalo nunca teria se aproximado tanto de um penhasco e os soldados deviam ter tirados suas baionetas durante a descida.
Uma das últimas e maiores obras de Surikov retrata o jovem chefe cossaco Stepán Rázin, que liderou uma grande rebelião contra a burocracia da nobreza e dos tsares no sul da Rússia entre 1670 e 1671, navegando pelo Volga após um ataque bem-sucedido. Enquanto seus camaradas bebem e se divertem, Rázin fica sentado sozinho, pensativo e triste, cercado pelos tesouros saqueados.
Autorretrato de Vassíli Surikov.
Museu RussoSurikov nasceu em uma família cossaca, então esse assunto era muito importante para ele. Acredita-se que Rázin é parcialmente um autorretrato do artista. No primeiro esboço, Surikov também retratou a princesa persa com quem Rázin voltava da campanha.
Surikov se inspirou para esta pintura no livro de Ivan Zabélin “Vida Doméstica das Tsarinas Russas". As mulheres da família real da Rússia eram verdadeiras eremitas que passavam a vida inteira atrás de muros e torres.
Além disso, se elas não encontrassem um par digno para o casamento, só teriam um destino: o mosteiro. O rosto corado da trsarevna (princesa) e seus trajes e “kokochnik” (tiara tradicional russa), bordados com ouro e pedras preciosas, destacam-se nitidamente contra um fundo de trajes negros das freiras.
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