Construção de novos estádios, melhoria das conexões de transporte e organização de eventos culturais – os preparativos para a Copa do Mundo da Fifa custaram cerca de US$ 13,2 bilhões, provenientes tanto dos cofres públicos como de investidores privados.
Embora os gastos tenham sido divididos entre os anos de 2013 e 2017, ainda é bem maior do que o investido por países que sediaram o torneio anteriormente (exceto o Brasil).
Especialistas acreditam que as chances de a economia do país se beneficiar do evento são baixas, mas, talvez, a publicidade em torno do país fosse, de fato, o objetivo do Kremlin.
Aumento de turistas
A Copa do Mundo da Fifa deste ano atraiu milhares, se não milhões, de turistas para a Rússia. Enquanto as autoridades locais esperam a marca final seja de 1,5 milhão de turistas, as empresas de consultoria estão prevendo um número mais modesto – 500 mil, o que ainda é significativo, já que estima-se que cada torcedores gaste, em média, de US$ 5.000 a 8.000 com alimentação, hospedagem, suvenires e entretenimento.
No total, esse fluxo pode injetar de US$ 2,5 a 4 bilhões à economia interna.
Os turistas estrangeiros contribuíram para o crescimento da demanda nas empresas de hotelaria e restaurantes, não apenas nas grandes cidades, mas também nos centros regionais. “Mas assa tendência não será prolongada, e vai cessar assim que o campeonato terminar”, diz Evguênia Miruk, diretora financeira da consultoria Evolution Management.
Outro fenômeno – também temporário – causado pelo afluxo de torcedores do mundo todo é a valorização do rublo. Os turistas compram a moeda, criando mais demanda. Ainda assim, o efeito disso será limitado: de acordo com especialistas, a moeda russa só tem potencial para se fortalecer em 2% em relação ao dólar norte-americano.
Estádios para nada?
Grande parte dos custos para a preparação do torneio (US$ 8,9 bilhões) foram aplicados em melhorias no transporte público e nas instalações esportivas, o que seria um bom investimento de longo prazo. No entanto, os US$ 4,1 bilhões restantes foram investidos na construção de estádios esportivos enormes, modernos e caros.
Embora autoridades afirmem que os investimentos serão certamente compensados em longo prazo ao sediar eventos internos e outras atividades esportivas, entre os analistas, não há consenso sobre esse assunto. Os dados também refutam essa hipótese.
Um relatório recente da Fitch Ratings aponta que os estádios deverão exigir custos de vários milhões de rublos em sua manutenções futuras – um gasto suportável para grandes metrópoles como Moscou e São Petersburgo, mas um fardo para cidades como Saransk.
No ano passado, esta última cidade teve um déficit de 27% durante os preparativos para a Copa do Mundo, e as autoridades esperam que serão necessários, anualmente, 300 milhões de rublos (US$ 4,7 milhões) para a manutenção do novo estádio local, avaliado em 17 bilhões de rublos (US$ 0,3 bilhão). Com recursos limitados, Saransk e outras cidades-sedes menores terão problemas para arcar com os custos exigidos.
Retorno modesto
Em geral, especialistas e empresas de consultoria preveem uma modesta melhora na economia – não mais do que 1% do PIB. Mesmo considerando que apenas dois países lucraram recentemente com a Copa do Mundo (os EUA, em 1994, e a França, em 1998), o fato de a Rússia ter construído ou reformado 12 estádios em 11 cidades pode ser um fator positivo no trabalho com investidores estrangeiros, sugere Evguênia Miruk. “Isso prova que a Rússia tem potencial para implementar projetos ambiciosos de grande escala e ajuda a conquistar a confiança junto aos potenciais parceiros”, afirma.
Usar isso em vantagem do país, no entanto, será complicado, dizem especialistas, uma vez que o campeonato em si não atrairá novos investidores. “Fatores como obstáculos jurídicos, transparência e condições externas (como sanções) continuarão sendo fundamentais para os investidores”, afirmam Daria Nosova, da FinTech 02 Consulting, e Oleg Bogdanov, analista do Teletrade Group.
Segundo Dmítri Kibkalo, fundador da rede internacional de lojas de jogos de tabuleiro Mosigra, o importante para a Rússia é mostrar que pode ser um parceiro confiável ao tomar decisões em favor de relações de longo prazo com outros países. “Isso criará uma atmosfera de confiança e aumento de interesse em voltar à Rússia e com dinheiro”, diz.
Jogada de marketing
Especialistas enfatizam que a realização de grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo, por exemplo, é, antes de tudo, uma excelente estratégia de relações públicas, e não uma mudança na política econômica. Nesse caso, os US$ 4,1 bilhões gastos em estádios seriam justificáveis para criar uma campanha internacional de relações públicas.
“Hoje, pode-se ver uma espécie de déjà vu”, observa Vladimir Rojankovski, analista de investimentos do Centro Financeiro de Moscou. Cerca de 30 anos atrás, após a queda da União Soviética, os peregrinos ocidentais começaram a descobrir a Rússia como um Estado, uma cultura e uma economia. Atualmente, estaria ocorrendo algo semelhante.
“Muitos jornais e canais de TV conceituados começaram a imaginar a Rússia como um país ‘surpreendentemente’ animado e amigável, e pode-se ter certeza de que ela funcionará como um ímã para o influxo de turismo pós-evento”, explica Rojankovski. “Esperamos atrair os curiosos em ver uma ‘nova Rússia’, aqueles que não confiam em fake news e que queiram conferir que a Rússia é, de fato, um ‘país normal’”.
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