Segurando o cetro na mão direita e o orbe imperial na esquerda, um monarca russo se sentava no trono no final da cerimônia de coroação russa. O primeiro tsar a usar insígnias reais foi Fiódor 1° da Rússia (1557-1598), filho de Ivã, o Terrível, e o último foi Nikolai 2°, em 27 de abril de 1906. Na última ocasião, porém, o derradeiro imperador russo não tocou nos apetrechos: eles foram colocados em uma mesa cerimonial à direita de Nikolai 2°.
Bastão e cetro dos Riúrik e dos Romanov
Ivã, o Terrível, mostrando tesouros ao embaixador inglês Jerome Horsey. Pintura de Aleksandr Litovtchenko, 1875.
Museu RussoO bastão de um monarca é provavelmente o símbolo mais antigo do poder. Suas origens remontam aos cajados dos pastores e de homens santos - que simbolizariam o poder de um pastor sobre seu rebanho e o poder de um padre sobre sua paróquia, respectivamente.
O bastão também era frequentemente usado por padres em alta posição na hierarquia de diversas religiões. O bastão na mão de um monarca simbolizar o tronco da árvore da vida, que liga o céu e a terra.
Moedas do príncipe Sviatopolk e Vladímir, o Grande.
Grigoriy Tyukanov (CC BY-SA 3.0), Hermitage MuseumBastões desse tipo estão cunhados nas antigas moedas russas de Vladímir, o Grande, e do príncipe Sviatopolk. Neles, o príncipe segura um bastão decorado com uma cruz. Essas imagens também estão presentes em moedas bizantinas da mesma era.
Já uma vara ou um cetro são levemente diferentes: são mais curtos. Uma vara era usada nas forças armadas do Império Romano como atributo do comandante e, mais tarde, na Idade Média, as varas foram adotadas pelos monarcas europeus como atributo do poder militar e secular.
Ivã, o Terrível. Pintura de Víktor Vasnetsóv.
Galeria TretiakovA primeira vara na Rússia foi provavelmente representada nas ilustrações da Crônica de Radzivill (século 13I), onde Sviatosláv 2° de Kiev segura um cetro ao encontrar-se com enviados alemães. Mas, oficialmente, não se usaram cetros antes do século 16, e os príncipes do Tsarado de Moscóvia usavam bastões como insígnias imperiais (junto com a coroa).
Em 1553, os enviados ingleses Robert Chancellor e Clement Adams escreveram que Ivã, o Terrível, encontrou-os sentado em um “assento dourado, com uma coroa na cabeça e com um cetro de cristal e ouro na mão direita”. A partir de então, o tsar nunca deixou de segurar um cetro durante cerimônias.
Mas Ivã, o Terrível, sempre carregava um bastão consigo para simbolizar seu poder. Jerome Horsey, outro diplomata inglês na Rússia, escreveu que Ivã acreditava que seu bastão, feito de "chifre de unicórnio", tinha propriedades curativas.
Durante uma conversa com Horsey, Ivã disse: “Estou envenenado com doenças”. Então, ele ordenou que seu médico pessoal desenhasse um círculo em uma mesa com o bastão incrustado de joias e finalizado com chifre de unicórnio (provavelmente uma presa de narval) e colocar duas aranhas dentro dele. Uma morreu e a outra fugiu, e Ivã disse: "É tarde demais. Ele (o bastão) não vai me proteger”.
Fiódor 1° Ivânovitch (1584-1598).
Viktor Kornushin/Global Look PressDurante a coroação de Fiódor 1° da Rússia, em 1584, ele usou tudo o que podia: o bastão que segurava, o cetro e o orbe - ambos carregados em uma almofada diante se si. Infelizmente, o cetro de Fiódor não sobreviveu até nossos dias.
Orbe e cetro, parte do grande traje do tsar Mikhaíl Romanov. Câmara de Armorial do Krêmlin de Moscou.
Balabanov/SputnikO cetro mais antigo de tsares russos que se conhece foi o usado pelo primeiro Romanov, Mikhaíl 1° da Rússia, em sua coroação e depois. Este cetro provavelmente foi um presente do Sacro Imperador Romano Rodolfo 2°. Outro, usado por Aleixo da Rússia, era proveniente de Istambul e chegou ao país em 1662, junto com um orbe.
O cetro imperial russo.
Yuriy Somov/SputnikDurante sua coroação, Pedro, o Grande usou um cetro à moda antiga feito em Moscou e que se parecia muito com os dos Riúrik. Mas, em 1762, Leopold Pfisterer, joalheiro austríaco que trabalhava na Rússia, fez um cetro imperial para Catarina, a Grande e este passou a ser usado em todas as coroações desde então.
Em 1774, o Diamante Orlov foi instalado no cetro. Ele tem 59,6 cm de comprimento e pesa 604 gramas. Também foram usados para fazer o cetro 395 gramas de ouro, 60 gramas de prata e 193 diamantes. Desde 1967, ele está em exibição no Acervo de Diamamte da Câmara Armorial do Krêmlin.
A cruz sobre o mundo
O orbe do tsar Aleixo Mikháilovitch (1629-1676). Istambul, 1662.
Sergey Subbotin/SputnikO orbe, ou, para ser mais preciso, o globus cruciger ("orbe cruzado", em latim) também é um elemento oficial da realeza e simboliza o poder espiritual e religioso do monarca sobre o mundo. Como a vara (o cetro), o orbe também é proveniente do Império Romano. A esfera plana que o deus Júpiter segurava representava o mundo, ou o universo, enquanto a esfera de metal (o orbe) que o imperador segurava representava seu domínio.
Orbe e cetro provenientes de Istambul (1662).
Fyodor Solntsev/Antiquities of Russian country, 1846—1853Com o desenvolvimento do cristianismo, o orbe recebeu uma cruz no topo. O imperador segurava o orbe (o mundo) em sua mão para mostrar que ele o governava em nome de Deus. Assim como o cetro, o uso do orbe foi adotado a partir de Constantinopla pelos tsares russos.
O orbe de Pedro 2°.
Shakko/WikipediaExistem quatro orbes russos. O primeiro foi usado pelo primeiro Romanov, Mikhaíl 1° da Rússia - este veio com o cetro de Rodolfo 2°. Ele tem cenas da vida do rei bíblico Davi. O orbe grego, proveniente de Istambul, em 1662, juntamente com um cetro, foi usado por Aleixo da Rússia. Um orbe também foi feito para Pedro 2° da Rússia - e era bastante pequeno porque, em 1727, o monarca era um menininho de 12 anos.
O orbe imperial russo.
Yuriy Somov/SputnikFinalmente, o Orbe Imperial, com 24 centímetros de altura e 48 de diâmetro, foi fabricado para Catarina, a Grande pelo joalheiro da corte, Georg Friedrich Eckart. É um globo de ouro polido, circundado por faixas de diamantes.
Cópias do Orbe Imperial e do Cetro Imperial.
Boris Kavashkin/TASSDurante o reinado de Pável 1° da Rússia, o orbe foi decorado com uma safira do Ceilão de 195 quilates. Também foram usados para fazer o orbe 465 gramas de ouro, 305 gramas de prata e 1.370 diamantes.
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