Durante quatro séculos, a Rússia e o Império Otomano travaram uma luta sangrenta pela costa do Mar Negro, os Bálcãs e o Cáucaso. De meados do século 16 e até o fim da Primeira Guerra Mundial, os dois países se enfrentaram em mais de dez guerras e conflitos armados. Em média, nem mesmo 25 anos se passavam sem que os soldados das duas potências se revissem em lados opostos no campo de batalha.
Fuga de Sakhib Guirei de Oki, 1541.
Domínio públicoO primeiro confronto militar entre os russos e os turcos aconteceu em 1541. O cã da Crimeia, Sahib I Giray, que era politicamente dependente do Império Otomano, começou uma campanha militar contra Moscou, pedindo ao sultão um destacamento de janízaros e artilharia. Os russos obtiveram uma vitória decisiva.
Retrato de Selim II, sultão do Império Otomano (1566-1574).
Domínio públicoA expansão do reino russo para o sul, a conquista dos canatos de Cazan em 1552 e de Astrakhan em 1556 preocupavam seriamente o Sultão Selim II. Os turcos sabiam que era necessário afastar os russos das fronteiras do Império Otomano e da Crimeia o mais rápido possível. No entanto, em 1569, sua tentativa de capturar Astrakhan fracassou e, em 1572, na batalha de Molodi, a 50 km de Moscou, o cã da Crimeia, Devlet I, perdeu quase sete mil janízaros.
Retrato de Selim II, sultão do Império Otomano (1566-1574).
Domínio públicoFrota de Azov.
Domínio públicoAs guerras do final do século 17 e início do século 18, em geral, desenrolaram-se com sucesso para o Estado russo, que conseguiu conter a expansão do Império Otomano nas terras ucranianas, mantendo Kiev sob seu controle. Em 1696, os russos tomaram a fortaleza turca de Azov, na margem do Mar de Azov, e construíram sua primeira marinha regular. A campanha de Prut, em 1711, porém, não foi tão bem-sucedida.O exército de 80 mil soldados do tsar Pedro, o Grande, foi cercado na Moldávia por 200 mil turcos e tártaros da Crimeia. O tsar conseguiu fazer as pazes com o inimigo e salvar o exército, mas Azov ficou nas mãos do inimigo por quase 25 anos.
Batalha de Chesme em 1770.
Vladímir Kossov (CC BY-SA 4.0)Uma das guerras mais importantes da história do confronto russo-turco foi a guerra de 1768-1774. Em julho de 1770, a esquadra russa destruiu completamente a frota turca na baía de Chesme, no mar Egeu. Assim, o Império Russo passou a ter o domínio completo do Mediterrâneo oriental. “A água, misturada com sangue e cinzas, era aterrorizante. Os cadáveres queimados flutuavam nas ondas, a água perto do porto estava toda coberta com eles, e era difícil navegar nos barcos”, escreveu o príncipe Iúri Dolgorukov, que participou da batalha.
Batalha de Kaluga.
Johann Martin WilleO triunfo no mar foi seguido por sucessos em terra: os exércitos turcos foram derrotados em Larga, Cahul e Kozludzhi. Por algum tempo os russos controlaram Beirute, um dos portos mais importantes do Império Otomano. Como resultado da guerra, a Crimeia foi declarada independente. Mais tarde, em 1783, a península foi anexada ao Império Russo. Além disso, o Império Russo passou a ter o direito de ter uma marinha no Mar Negro, podendo passar livremente pelos estreitos do Bósforo e de Dardanelos.
Batalha de Sinope.
Ivan AivazóvskiQuase todos os conflitos militares subsequentes, até meados do século 19, foram bem-sucedidos para a Rússia, que conseguiu repelir o enfraquecido Império Otomano da região norte do Mar Negro, do Cáucaso e dos Bálcãs. A Guerra da Crimeia de 1853-1856 também começou com êxito para as tropas russas. Na Batalha de Sinop, em 30 de novembro de 1853, a frota russa derrotou toda a frota turca, 15 navios foram afundados, mais de três mil marinheiros foram mortos e o comandante da frota turca, o vice-almirante Osman Pasha, foi capturado. “Com sincera alegria no coração, quero dizer aos nossos bravos marinheiros que agradeço pelo feito realizado para a glória da Rússia e para a honra da bandeira russa", escreveu o imperador Nicolau I ao ministro da Marinha, Aleksandr Ménchikov.
Convés do encouraçado "Imperatriz Maria" durante a batalha de Sinope.
Aleksêi KivchenkoApós a Batalha de Sinop, apelidada de "massacre de Sinop" pela imprensa inglesa, a Grã-Bretanha, a França e o Reino da Sardenha entraram na guerra, ao lado dos turcos. Aproveitando o atraso técnico do exército russo, os Aliados alcançaram a vitória. De acordo com o Tratado de Paz de Paris, a Rússia perdeu o direito de manter sua marinha no Mar Negro. Essa restrição foi suspensa apenas em 1871.
Tomada de Sofia pelo general Gurko.
Domínio públicoApós a violenta repressão pelos turcos dos protestos cristãos na Bulgária e na Bósnia, entre 1876 e 1877, uma onda de indignação se espalhou por toda a Europa. Em 24 de abril de 1877, a Rússia declarou guerra ao Império Otomano, cujo objetivo era a libertação dos povos balcânicos. Apesar das dificuldades temporárias, a campanha militar do exército russo foi bem-sucedida e, em janeiro do ano seguinte, os militares russos chegaram à região de Istambul. Sob os termos do tratado de paz de San Stefan, foi oficialmente proclamada a independência da Romênia, Sérvia e Montenegro, os turcos cederam aos russos alguns territórios no Cáucaso e nos Bálcãs e deram autonomia à Bósnia e Herzegovina. Entretanto, o principal resultado da paz foi a restauração do Estado Búlgaro, que incluia vastos territórios desde o Mar Negro até o Mar Egeu. Durante os primeiros anos, a Bulgária estaria sob domínio direto da Rússia.
Mapa satírico da Europa em 1877.
Frederick RoseO fortalecimento das posições do Império Russo nos Balcãs preocupou seriamente as potências ocidentais. Após seu ataque diplomático, os termos da Paz de San Stefano foram revisados no Congresso da Paz, em Berlim, no verão de 1878. A independência da Romênia, Sérvia e Montenegro foi confirmada, mas Bósnia e Herzegovina, em vez de autonomia, recebeu uma ocupação “temporária” das tropas austro-húngaras. Em vez da Grande Bulgária, foi estabelecido um principado vassalo com centro em Sofia e uma província autônoma do Império Otomano chamada de Rumelia Oriental. “A Europa nos deu apenas o direito de derrotar os turcos, derramar sangue russo e gastar dinheiro russo, mas não beneficiamos nem a nós mesmos, nem a nossos correligionários”, escreveu o embaixador russo em Istambul, Nikolai Ignatiev.
Arma turca (15 cm Ringkanone L / 26 Krupp) capturada pelo Exército Russo, Erzurum, 1916.
Domínio públicoO último conflito armado na história do confronto militar entre os dois impérios foi a Primeira Guerra Mundial. O exército russo conseguiu não apenas desmanchar os planos turcos de tomar a região de Cáucaso, mas também lançar uma contra-ofensiva em grande escala. Assim, no início de 1916, as tropas do general Nikolai Iudenitch derrotaram o 3º exército turco e capturaram a cidade de Erzurum, que era estrategicamente importante pois atrás dela se abria o caminho para o interior dos territórios otomanos.
Trincheiras russas nas florestas de Sarikamish.
Domínio públicoAs tropas russas, entretanto, não estavam destinadas a esmagar os turcos. A Revolução de fevereiro de 1917 levou não apenas à queda da autocracia na Rússia, mas também ao rápido colapso do exército russo. As tropas turcas conseguiram devolver todo o leste da Anatólia sob seu controle e capturar as regiões russas de Batumi e Kars.
Visita da delegação soviética à Turquia (1933).
SputnikApós o fim da Primeira Guerra Mundial, iniciou-se um período fora do comum nas relações bilaterais entre os dois inimigos. Os bolcheviques apoiaram o Movimento Nacional Turco de Kemal Ataturk em sua luta contra a intervenção estrangeira. Como resultado, a Rússia Soviética e a República Turca, estabelecida em 1923 sobre as ruínas do Império Otomano, se tornaram aliadas. Mas não por muito tempo.
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