A história gira em torno de uma foto tirada pelo jornalista Viktor Akhlomov para o jornal ‘Izvêstia’. Em 1965, ao sair de casa para uma tarefa do dia a dia, o fotógrafo viu um homem empurrando um carrinho de bebê e segurando uma criança na outra mão. Akhlomov não resistiu à cena e fez um registro.
O que aconteceu a seguir foi totalmente inesperado.
“Quando levei a foto aos editores, todos sorriram e começaram a pensar em uma legenda bem-humorada”, lembrou Akhlomov. O brainstorming foi interrompido pelo editor da coluna de humor, que sugeriu que o jornal seguisse o caminho inesperado de propor aos leitores uma legenda adequada – a primeira vez na história soviética que algo assim seria tentado. Assim nasceu uma nova coluna no jornalismo soviético: ‘Faça sua própria legenda’.
A história não terminou aí, no entanto.
A publicação da foto gerou furor. Além do mais, atravessou fronteiras internacionais. O clique de Akhlomov foi parar no ‘The Sunday Times’ do Reino Unido, que assumiu o divertido desafio de competir com os russos pela legenda mais engraçada. Quase metade da Europa iria aderir depois.
Akhlomov revelou como o ‘Izvêstia’ começou a receber cartas de fãs de todo o mundo, junto com legendas para a foto.
Um leitor do Reino Unido enviou a legenda: “Comprei na loja”.
Outro, da Tchecoslováquia, sugeriu: “Não estou nem aí para Malthus!” (Para contextualizar, Thomas Malthus foi um demógrafo do século 19 que acreditava que o crescimento desordenado da população levaria à fome global e à morte da humanidade. Ele emitiu apelos para que as pessoas tivessem menos filhos e, assim, evitar o declínio social). Esta foi a legenda vencedora.
Viktor Akhlomov
Iliá Pitalev/SputnikJá entre os leitores soviéticos, a melhor legenda foi: “Eu iria até os confins da Terra com um marido assim!”
A popularidade inesperada da foto fez com que todos no ‘Izvêstia’ questionassem a identidade do homem retratado. Os editores decidiram que era importante encontrar a celebridade acidental e contar-lhe sobre sua fama. Akhlomov acreditava que o homem era obviamente um moscovita (quem mais estaria andando por aí com dois filhos e um carrinho de bebê?).
Mesmo assim, não seria uma busca fácil: mesmo naquela época, Moscou já era uma cidade enorme, com provavelmente centenas de milhares de pais que tinham dois filhos. Pouco tempo depois, foram produzidos milhões de postais retratando a cena, acompanhada de cinco das melhores legendas – assim, o herói da foto também seria encontrado em breve.
O único porém é que Akhlomov estava errado sobre o local de residência do homem. Descobriu-se que ele era da região de Khabarovsk, que está mais perto do Japão do que Moscou está em relação a São Petersburgo.
Os editores receberam uma carta esclarecendo que o homem na foto era o Borís Emmanuilovitch Zaltsman, de Moscou — mas que estava na cidade apenas por um breve período, já que seu verdadeiro local de residência era a região mencionada no Extremo Oriente da Rússia, onde atuava como um pesquisador geólogo de destaque. Akhlomov conseguiu registrar o homem feliz enquanto estava de férias em visita a seus pais com a esposa e os filhos.
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