O prédio principal da universidade, na zona leste da capital.
DivulgaçãoNo final de agosto de 1968, o jovem soviético Vladímir Filippov, aos 17 anos de idade, chegou a Moscou em um trem noturno vindo de Uriupinsk, uma cidadezinha na região de Volgogrado, para iniciar seus estudos na RUDN (da sigla em russo, Universidade Russa da Amizade dos Povos).
Ele conseguiu entrar no alojamento universitário já perto da meia-noite, e lá descobriu que dividiria o quarto com um vizinho de Madagascar e outro de Camarões. Nenhum deles falava russo, e Filippov passou a noite enchendo os novos camaradas de geleia caseira que tinha trazido do interior. Mas, quando chegou a hora de dormir, surgiu um problema.
“A moça que cuidava da roupa de cama já tinha ido embora, e eu fiquei na mão. Então, eles juntaram as três camas e esticaram seus dois lençóis para estendê-los em todos os colchões. Dormi entre os dois. Foi meu primeiro contato, muito amigável, com estudantes estrangeiros”, lembra Filippov, hoje reitor da instituição e ex-ministro da Educação do país.
Neste ano, a Universidade da Amizade dos Povos celebra seu 60° aniversário e continua a atrair estudantes do mundo todo, apesar de não dar mais importância aos objetivos que levaram a sua criação.
Na inauguração da RUDN, o líder soviético Nikita Khruschov faz jus ao nome da universidade.
DivulgaçãoQuando a universidade foi fundada, em 1960, uma de suas principais metas era propiciar ensino superior a jovens líderes de países africanos, asiáticos e latino-americanos, para que esses retornassem a seus países promovendo os valores comunistas ou, pelo menos, encorajando seus governos a serem mais amigáveis com a URSS.
O quadro de funcionários da universidade era formado por alguns dos acadêmicos mais respeitáveis das ciências biológicas, exatas e humanas, e ela tinha reputação de ser a instituição mais ‘mente aberta’ do ensino superior russo.
Revolução educacional
Na década de 1980, a RUDN foi um dos primeiros estabelecimentos da URSS a trocar seu modelo educacional pelo ocidental, oferecendo cursos de bacharelado e mestrado no lugar do “primeiro diploma soviético”, que tinha cinco a seis anos de duração.
Até hoje, a universidade atrai estudantes do mundo inteiro, mas enfrenta novos desafios, já que os rankings internacionais se tornaram parte importante do recrutamento.
A designer de eventos brasileira Inayê Brito, 27, por exemplo, estudou na RUDN depois de selecionada para intercâmbio pela USP (Universidade de São Paulo).
A brasielira Inayê Brito (centro) com colegas na RUDN.
Divulgação“Gostei muito da receptividade da universidade para estrangeiros. A instituição parecia preparada para a inclusão, e ensinando estudantes de qualquer lugar do mundo”, disse ao Russia Beyond.
Ela acredita que a universidade mereça a quarta posição nos rankings russos, noticiada recentemente pela agência de notícias Interfax. “As exigências e as altas expectativas dos estudantes são muito maiores na USP que na RUDN, apesar de o sistema ser totalmente diverso, em termos de programas, notas, aulas, metodologia, professores”, diz Brito.
A diretora regional para Europa Oriental e Ásia Central de um dos principais rankings de universidades do mundo, o QS, concorda que a diversidade é um dos pontos fortes da RUDN, mas diz que para subir nos rankings a instituição terá que focar novamente em ser um local onde os melhores queiram ensinar e aprender.
“Esta é, provavelmente, uma das universidades mais modernas, flexíveis e progressistas da Rússia, e precisa de um esforço conjunto para ser reconhecida globalmente, para que seus formandos tenham mobilidade e possam achar bons empregos sem passar por todos os problemas de ter que provar que seu diploma vale alguma coisa”, diz.
Um meio de melhorar a reputação da universidade, segundo ela, é trabalhando sua enorme rede de formandos, que inclui, por exemplo, o primeiro-ministro do Chade, Abbas Yusuf Saleh; o ministro do Mali Abdramane Sylla; e o diretor-executivo do Conselho de Turismo do Quênia, Achieng Ongong’a.
RUDN, berço de ilustres
A Universidade da Amizade dos Povos (RUDN) foi fundada em fevereiro de 1960. Um ano depois, foi renomeada em homenagem a Patrice Lumumba, primeiro líder eleito democraticamente no Congo. A primeira turma era composta por 228 estudantes de 47 países e graduou-se em 1965. Hoje, mais de 29 mil jovens de 140 países estudam ali. Além de diversos líderes de Estado estrangeiros, a instituição continua a formar até hoje russos de destaque, como o líder oposicionista Aleksêi Naválni e a espiã Anna Tchapman.
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