Zarifa and Mikhail
Personal archiveA Rússia é um Estado laico, mas cerca de 80% dos cidadãos do país se descrevem como cristãos ortodoxos. Eles convivem, porém, com católicos, protestantes, muçulmanos, budistas e muitos outros fiéis religiosos, incluindo pessoas que se consideram ateias. Conheça as histórias de casais que conseguiram formar uma conexão romântica duradoura apesar das diferentes visões religiosas.
1. Zarifa e Mikhail (Muçulmana/Cristão Ortodoxo), 38 e 50 anos
Juntos há 18 anos, de São Petersburgo
Zarifa e Mikhail (Foto: Arquivo pessoal)
Zarifa: Toda a minha família é muçulmana, embora a religião fosse proibida na União Soviética. Eles sabem pouco sobre o Islã, mas memorizaram as principais orações durante a infância. Sempre acreditei em Allah, e isso não afetou em nada o nosso casamento. Já visitei cerca de cem igrejas diferentes. Mas mesmo quando estou olhando para obras de Donatello na Basílica de Santa Cruz, não me esqueço de dizer: “Glória a Ti, grande Allah, por me dar a oportunidade de ver tanta beleza”.
Casar-me com um cristão soou como uma catástrofe para os meus pais. Mas ao longo do tempo, eles foram conhecendo Micha [Mikhail] melhor e gostando dele. Meus pais entendem que meu marido não me desencoraja a seguir minhas crenças religiosas.
Mikhail: Quando nos conhecemos, eu não era nem batizado, mas queria me tornar ortodoxo. Eu era indiferente ao Islã. Eu só sabia que alguns movimentos muçulmanos justificam a violência, mas isso não tem nada a ver com a minha esposa.
Com o passar do tempo, compartilhamos nossas culturas – por exemplo, aprendi a palavra “suublyk”, que significa uma pequena boa ação por ocasião de alegria ou luto.
Zarifa: Eu não tento mudar os pontos de vista religiosos do meu marido. Ele foi batizado depois dos 30 anos e vinha sido preparando para isso havia um bom tempo.
Acabamos, sim, debatendo sobre religião. Tento mostrar-lhe que o Islã é uma crença justa e altruísta, enquanto, na Igreja Ortodoxa, é preciso dinheiro até para oração.
Micha diz que, em nome de Allah, as pessoas cometem ataques terroristas. Mas não adianta discutir sobre fanatismo – eles não entendem a real essência da religião.
Tradições religiosas
Zarifa: Nós comemoramos os feriados ortodoxos e os muçulmanos. Eu ajudo a pintar os ovos de Páscoa e monto a mesa depois da meia-noite para que Micha possa quebrar o jejum. Nos feriados muçulmanos, dou esmolas e cuido dos pobres.
Mikhail: Na maioria das vezes, as tradições são meras formalidades para nós. No entanto, eu tento não cozinhar carne de porco. Quanto aos feriados ortodoxos, nós celebramos o Natal e a Páscoa em casa e com meus pais.
Zarifa: Nos casamos em uma cerimônia civil no cartório, sem qualquer celebração religiosa. Quanto ao batismo – pensamos em adotar e iremos dar à criança a oportunidade de fazer essa escolha. Eu vou ensinar a criança sobre o Islã, e Micha poderá ensinar sobre a sua religião. Quem será mais convincente? Vamos ver.
2. Marfa e Artiom (Judia/Cristão Ortodoxo), 19 e 21 anos
Juntos há mais de dois anos, de São Petersburgo
Marfa e Artiom (Foto: Arquivo pessoal)
Marfa: A religião é indispensável em minha vida. Sempre acreditei que iria encontrar alguém entre os judeus solteiros. Mas Artiom apareceu e estragou tudo (risos).
Artiom: Eu celebro a maioria dos feriados ortodoxos com minha família. Mas acredito que a coisa mais importante é ter fé no coração. As tradições de Marfa ampliaram minha mente, e, com certeza, e eu tento segui-los porque é muito importante para ela.
Tradições religiosas
Marfa: Minha mãe simplesmente acredita em Deus e pratica quase todas as religiões. É por isso que estou acostumada a diferentes tipos de tradições desde que era criança. Mas tenho preferência pelas judaicas.
As catedrais ortodoxas me assustam: tudo é coberto de ouro, a atmosfera é formal... Eu não gosto. As pessoas em sinagogas são simples. Mas Artiom não vai à igreja com muita frequência nem nunca me pede para ir com ele.
Artiom: Se Marfa continuar recusando meus convites, assim vou ser obrigado a me converter ao judaísmo. (risos)
3. Daria e Evguêni (Ateia/Cristão ortodoxo), 18 e 20 anos
Juntos há dois anos e meio, de Samara
Daria e Evguêni (Foto: Arquivo pessoal)
Daria: No começo tinha esperança de convencer Evguêni, mas depois me acalmei. Por exemplo, quase nem faço mais piadas sobre religião. É um progresso! (risos)
Evguêni: Sim, nós discutimos muito. Tentei convencer Dacha que Deus existe. Mas agora entendo que as pessoas devem perceber isso por conta própria.
Tradições religiosas
Daria: Este ano ajudei a preparar os bolos de Páscoa. Por que me recusaria se eles são tão gostosos? Quando meus amigos me dizem “Cristo ressuscitou!”, eu sei que estão brincando. Posso dar uma resposta adequada às pessoas, mas não sei agradá-las.
Eu não consigo entender por que as pessoas vão à igreja para benzer sua água e bolos de Páscoa. Será que isso vai curá-los de todas as doenças ou o quê? E a tradição de manter ícones religiosos no carro... Deus protegem apenas aqueles que os têm?
Evguêni: Um pequeno ícone não ocupa muito espaço. Mas, se existir alguma coisa lá em cima, e ele [ícone] der uma ajudazinha?
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