Magadan, a São Petersburgo do extremo oriente

Embora não seja um destino turístico óbvio, a capital da região de Kolima, no Extremo Oriente do país, tem muito a oferecer aos viajantes – desde terras milagrosas em seus entornos a museus e monumentos dentro da própria cidade.

“A vida aqui é diferente do dos russos no continente”, costumam dizer os moradores de Magadan. E, quem reage a isso com surpresa – afinal, a cidade (6.000 quilômetros a leste de Moscou) não é uma ilha –, é recebido com risos.

A região de Kolima, situada entre a bacia do rio homônimo e a margem norte do gelado mar de Okhotsk, realmente se assemelha a uma ilha isolada – não há trens para lá, e a cidade grande mais próxima, Iakutsk, fica a 2000 quilômetros a oeste dali. A única maneira confiável de chegar a esse lugar remoto é de avião – seja de Moscou ou de cidades siberianas e orientais, entre elas Vladivostok, Khabarovsk e Irkutsk.

“Vivemos no planeta Kolima, e é muito especial”, proclamam orgulhosamente os cidadãos de Magadan. E eles estão certos – embora distantes de quase todas os grandes centros urbanos da Rússia, a cidade é lar de pérolas inesperadas.

Arquitetura

Rua principal de Magadan, em 2014 / Legion Media

“Magadan é uma pequena Leningrado [atual São Petersburgo]”, disse, certa vez, o escritor canadense Farley Mowat, que explorou a Kolima soviética no final dos anos 1960. Ambas têm coisas em comum – além de situadas na mesma latitude.

As autoridades que construíram Magadan também prestaram grande atenção à arquitetura. Construídos nos anos 1930, os edifícios do centro histórico da cidade foram projetados no estilo stalinista, que inclui elementos barrocos.

Ao percorrer a área central de Magadan, é possível imaginar como era no século 20, quando os prisioneiros dos campos de trabalho forcado e voluntários lutavam contra o clima brutal para erguer essa sob o solo do tipo permafrost.

Monumentos

Memorial Máscara da Tristeza homenageia vítimas da repressão política

Durante o governo de Stálin, Kolima era marcada pela repressão.

Milhares de pessoas foram enviadas para trabalhar em campos de trabalho forçado ali, onde extraíam ouro e urânio para o Estado, enquanto pereciam de fome e frio, e pela agressão dos guardas. Cerca de 130 mil pessoas morreram na região durante tal época.

Não é por acaso que perto de Magadan foi erguido na década de 1990 um monumento às vítimas das gulags. A escultura de concreto com 15 metros de altura, intitulado de ‘Máscara da Tristeza’, está cravada em uma colina nos arredores da cidade. O rosto choroso, com as lágrimas constituídas de outros rostos chorosos menores, simboliza o sofrimento eterno e relembra os visitantes da violência testemunhada por Kolima durante a era soviética. Para chegar lá, basta reservar um passeio de ônibus ou carro.

Museus

O Museu Regional de História Local de Magadan (Avenida Karl Marx, 55) apresenta coleções dedicadas à história das gulags, à ​​natureza da região, e à vida e à história das populações indígenas do Extremo Oriente – evenques, tchukchi, esquimós e outros. Nesse local pode-se observar como essas tribos costumavam viver muito antes de os russos chegarem às terras remotas do Extremo Oriente.

Interior do Museu Memorial de Vadim Kozin

Há outros museus interessantes em Magadan, como o Memorial de Vadim Kozin (R. Shkolny, 1). Kozin era um famoso cantor soviético da década de 1930 que caiu em desgraça e foi enviado a Kolima como prisioneiro. Ali permaneceu mesmo depois de ser libertado e viveu até os anos 1990. Seu apartamento é, provavelmente, um dos locais mais soviéticos do mundo, com estantes enormes e muitas imagens ​​de gatinhos.

Atrações à beira-mar

Magadan possui cenários bonitos, mas, para ter acesso às vistas mais espetaculares, é preciso sair um pouco do centro da cidade. Mas não se preocupe – não é necessário ir tão longe assim. Para ter contato com o mar, por exemplo, basta seguir a rua Portovaya ou Nagaevskaya, e caminhar por apenas 5 a 10 minutos para chegar à baía de Nagaev. O mar é geralmente muito frio para nadar, mesmo no verão, mas os moradores locais gostam de passar dias quentes ali curtindo a brisa e a luz do sol.

Cabo Nyuklya, perto de Magadan / Denis Plotnikov

Para quem busca ainda mais, há outra opção: pegar um táxi perto da estação rodoviária (rua Proleterskaya) e fazer um passeio para o Cabo Nyuklya. A paisagem local é incrivelmente pitoresca – uma longa extensão de areia que se estende pelo mar de Okhotsk – o que aumenta a sensação de “ilha”.

A cidade está cercada por colinas verdes, e algumas deles merecem ser exploradas, especialmente a que abriga a chamada Coroa de Pedra (formação rochosa única, de ocorrência natural, cujo pico se assemelha a uma coroa e pode ser vista de Nagaev).

A distância da cidade até o pico é de cerca de oito quilômetros, portanto, vale a pena somente para aqueles que gostam de caminhar. Depois de andar por algumas horas, os visitantes são recompensados ​​com uma maravilhosa vista de Magadan e da baía.

Rio Omuliovka

Por último, mas não menos importante: é preciso escolher bem o período do ano em que for visitar Magadan. Para quem não gosta de temperaturas muito baixas (30ºC negativos no inverno), prefira o verão ou início do outono.

“Nosso outono é incrivelmente belo”, diz Vera Smirnova, diretora do Complexo de Museus Magadan. “As colinas verdes lentamente ficam amareladas e vermelhas; parece que estão queimando em ouro. Pode ser comparado à beleza das flores de cerejeira no Japão.”

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