O que pode ser mais valioso para um escritor do que o reconhecimento de alguém famoso e de maior autoridade no ramo? Você consegue imaginar que Sigmund Freud, o pioneiro da psicanálise, admitiu que seu método não era aplicável aos personagens dos livros de Dostoiévski?!
Kafka sentia uma conexão profunda com Dostoiévski e leu, deliciando-se, trechos de “O Adolescente” para seu amigo Max Brod, que mais tarde escreveu que o quinto capítulo do romance influenciou muito o estilo de Kafka.
James Joyce elogiou Dostoiévski: "... ele é o homem que, mais do que qualquer outro, criou a prosa moderna e a intensificou até sua forma atual".
Virginia Woolf escreveu que os romances de Dostoiévski são “turbilhões fervilhantes, tempestades de areia giratórias, trombas de água que assobiam e fervilham e nos sugam para dentro. Elas são compostas de pura e totalmente da essência da alma. Contra nossas vontades, somos atraídos, rodopiados, cegados, sufocados e, ao mesmo tempo, preenchidos com um arrebatamento vertiginoso”.
Gabriel García Márquez e Haruki Murakami foram fãs de Dostoiévski na juventude. Provavelmente, o único escritor que não reconheceu este gigante da literatura foi Vladímir Nabôkov.
Sabemos, com certeza, que Charles Dickens foi altamente influenciado por Dostoiévski. E o escritor mais sombrio da Rússia causou impacto no modo de ver o mundo de muitos autores posteriores.
1. William Faulkner
Diversos livros tratam do fascínio de Faulkner por Dostoiévski. O romancista norte-americano mencionou o russo como uma de suas principais inspirações literárias, ao lado da Bíblia e de Shakespeare.
“Os Irmãos Karamazov” foi a obra que mais o influenciou, e que ele releu diversas vezes. Ele chegou até a escrever ao poeta Hart Crane que a literatura norte-americana não tinha nada que se assemelhasse a esse romance.
“Como Dostoiévski, Faulkner estava interessado em estudar a crise de uma personalidade que se encontrava em meio à crise na sociedade”, escreveu Robert Hamblin, especialista na obra de Faulkner.
Uma família aleatória descrita por Faulkner simboliza os humores e condições de toda a nação (do sul dos EUA, para ser mais preciso), algo equivalente aos personagens de Dostoiévski, que estão numa encruzilhada de moralidade, fé e emoções.
2. Friedrich Nietzsche
Especialistas consideram as “Notas do Subsolo”, de Dostoiévski, como o diário de um homem louco e um dos primeiros exemplos de existencialismo.
E, apesar de Søren Kierkegaard ser o pai da filosofia moderna, o romancista russo teve uma grande influência sobre a maioria de suas mentes mais brilhantes, como Jean-Paul Sartre e Friedrich Nietzsche, que classificaram “Notas do Subsolo” como uma obra psicológica magistral.
Nietzsche tinha grande interesse pela literatura russa, e lia Púchkin, Lermontov e Gógol. Ele mencionou Dostoiévski como uma das descobertas mais felizes de sua vida.
“Você conhece Dostoiésvki? Exceto Stendhal, ninguém foi uma surpresa tão agradável para mim e ninguém me deu tanto prazer. Ele é um psicólogo com quem encontro um terreno comum”.
Reza a lenda que Nietzsche chegou a ler o romance de Dostoiévski “Humilhados e Ofendidos” com lágrimas nos olhos, mas o que sabemos, com certeza, é que o filósofo alemão expressou o mais profundo respeito por Dostoiévski depois de ler este livro.
Há evidências de que Nietzsche também estivesse familiarizado com “Crime e Castigo”, “O idiota (baseando sua teoria do Anticristo como oposta ao Príncipe Michkin), e “A Casa dos Mortos” (não estava satisfeito com o pessimismo russo).
3. Jean-Paul Sartre
“Dostoiévski escreveu certa vez: 'Se Deus não existisse, então tudo seria permitido', e isto, para o existencialismo, é o ponto de partida”, lê-se na icônica obra filosófica de Sartre, “O existencialismo é um humanismo”.
A frase é um resumo das visões anticlericais de Ivan Karamazov. Na interpretação de Sartre, isto significa que, se Deus não existisse, os humanos seriam responsáveis por tudo, sem chance de pedir perdão.
A literatura russa procurava uma solução para entender os humanos muito antes de o existencialismo aparecer. Dostoiévski colocou a busca de significado na linha de frente e tentou resolver o mistério da responsabilidade, de si mesmo e de Deus no exemplo de Raskólnikov, em “Crime e Castigo”, de Stavróguin, em “Os demônios” e de Ivan Karamazov, em “Os Irmãos Karamazov”.
Para simplificar, entretanto, deve-se acrescentar que a fé é a principal resposta de Dostoiévski a todas as questões, o que contrasta com o existencialismo ocidental.
4. Ernest Hemingway
A posição de Hemingway sobre Dostoiévski é refletida em “Paris é uma festa”. “Em Dostoiévski havia coisas verossímeis e inverossímeis, mas algumas eram tão verdadeiras que o mudavam na medida em que você as lia; a fragilidade e a loucura, a maldade e a santidade, e a insanidade do jogo estavam lá para saber como você conhecia a paisagem e as estradas de Turguênev, e o movimento das tropas, o terreno e os oficiais e os homens e os combates em Tolstói.”
Depois de elogio deste porte, no entanto, o autor expressou um controverso: “Estive pensando sobre Dostoiévski. Como um homem pode escrever tão mal, tão incrivelmente mal, e fazer você sentir tão profundamente?”.
Muitos especialistas russos suspeitam de que Hemingway só estivesse com inveja mesmo.
5. Orhan Pamuk
Pamuk admite que Tolstói seja um romancista mais magistral, mas que, pessoalmente, foi muito mais influenciado pelo politizado Dostoiévski.
Certa vez, ao apresentar uma conferência em São Petersburgo, Pamuk admitiu que, quando leu “Os Irmãos Karamazov” pela primeira vez, viu sua vida mudar completamente.
Pamuk chegou até mesmo a sentir que Dostoiévski estava falando diretamente com ele, revelando algo sobre as pessoas e a vida que ninguém mais sabe.
Aos 20 anos, Pamuk leu um dos melhores romances políticos de Dostoiévski, “Os demônios”, e ficou atônito e assustado ao mesmo tempo. Nada do que tinha lido antes causou tal impressão nele.
Ele ficou chocado com o quão forte pode ser a paixão pelo poder e, ao mesmo tempo, impressionado com a capacidade de perdoar e a necessidade de ter fé. O desejo por todas as coisas sujas e sagradas ao mesmo tempo foi o que fez Pamuk refletir profundamente.
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