Mais de quatro décadas após o lançamento da obra-prima de Yuri Norstein “O conto dos contos”, sua narrativa ainda permanece além do nosso alcance. É algo para assistir e reassistir, e sobre o que refletir eternamente. A longo prazo, você corre o risco de se envolver tanto com “O Conto dos Contos”, que sentirá uma sensação surreal.
Um pouco surreal
Cheio de mistério e sabedoria, “O Conto dos Contos” (1979) não é um filme de animação comum. Ele é uma meditação de 29 minutos sobre a solidão, a perda e a evolução da vida, com uma mistura de elementos reais e surreais.
Uma das dramaturgas mais reverenciadas da Rússia, Liudmila Petruchévskaia foi coautora do roteiro de “O Conto dos Contos”. A obra-prima de Norstein recebeu vários prêmios internacionais de prestígio e foi classificada como o maior filme de animação de todos os tempos no Los Angeles Olympic Arts Festival de 1984.
Norstein tomou o nome de "O Conto dos Contos" emprestado de um poema de mesmo nome do poeta turco Nazim Hikmet, cujas letras poéticas foram traduzidas para mais de cinquenta idiomas, entre elas, o russo.
Em “O Conto dos Contos”’, o mundo é visto através dos olhos arregalados, tristes e assustados de um pequeno lobo cinza, que atua como guia na complexa história. O mote dominante para o conto é uma famosa canção de ninar russa.
À primeira vista, “O Conto dos Contos”' é uma colcha de retalhos bem costurada de metáforas com muitos tentáculos e memórias pessoais, como uma garotinha pulando corda, uma mulher lavando roupa, um poeta com uma harpa, uma gota que flui de uma folha e deliciosas maçãs vermelhas caindo na neve branca…
Ele é também um olhar poético sobre as dolorosas feridas da Segunda Guerra Mundial, que dificilmente seriam curadas. Yuri Norstein nasceu em Moscou, em 1941. As lembranças da devastadora guerra estavam sempre no fundo de sua mente.
Uma das cenas mais fortes da animação de Norstein é aquela em que mulheres e os maridos dançam uma linda melodia de tango e, no minuto seguinte, as mulheres são deixadas sozinhas — como se seus parceiros tivessem de repente ido parar em uma galeria de tiros. As mulheres pobres seriam informadas formalmente que seus irmãos, maridos e filhos foram todos mortos em ação…
Memórias e sonhos
“Todos temos nossas máquinas do tempo. Quem nos leva de volta são as memórias. E quem nos leva adiante são sonhos”, acreditava Herbert Wells. Em seu “O Conto dos Contos”, Yuri Norstein, uma lenda viva da animação russa, mistura camadas de memórias e sonhos para promover paz e esperança.
Norstein fez seu nome como um guru que não usa animação por computador. Um de seus filmes, “O ouriço no nevoeiro”, ficou em primeiro lugar no Laputa Animation Festival de 2003, no Japão, onde 140 animadores de todo o mundo escolheram as melhores animações da história.
Em seu “O Conto dos Contos”', Norstein usa várias camadas de painéis de vidro para criar efeitos tridimensionais não convencionais. Imagens da infância, com suas grandes esperanças e amargas decepções, ajudam os espectadores a se relacionarem com a história com um apelo universal e humanista.
Para acrescentar ainda mais autenticidade, Norstein usa imagens de vídeo de fogo, água e neve em sua animação. Quadros sobrenaturais, justapostos à natureza, ajudaram a transformar “O Conto dos Contos” em uma obra-prima visual feita à mão!
O acompanhamento musical do filme traz o triunfante Mozart ilustrando episódios de alegria e felicidade, enquanto o trágico Bach é ouvido em cenas de decepção, solidão e desespero.
Em “O Conto dos Contos”' tudo é pensado nos mínimos detalhes - ruídos assustadores, imagens, reflexos fugazes e pontos de luz repentina e trêmula. Na visão retrospectiva do mundo de Norstein, definitivamente há alguma luz no fim do túnel e um sentimento de pertencimento.
Você pode assistir “O Conto dos Contos”’ na íntegra aqui.
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