A grande coroa imperial da Rússia.
Heritage Images/Getty ImagesAntes de Pedro 1°, peça mais importante na vestimenta do tsar era o chamado “gorro” (chapka). O mais famoso, conhecido como Gorro de Monomakh, integra na coleção do Kremlin de Moscou. Em sua época, não se dizia “coroar”, mas “casar-se com o tsarismo”.
Pedro 1° revisou as antigas tradições e tomou emprestados alguns rituais das monarquias ocidentais. Ele realizou a primeira cerimônia de coroação com sua mulher, a então futura imperatriz Catarina 1°. Aliás, a própria dela coroa foi desmantelada (embora a Câmara de Arsenais do Kremlin de Moscou ainda tenha a estrutura da coroa dela).
As coroas de Pedro 2° e Isabel Petrovna também foram desmontadas. Mas a coroa de Catarina 2° foi poupada desse destino. Além disso, foi a coroa dela que todos os tsares seguintes da família Romanov usaram quando coroados. Além dessa grande coroa, os governantes também tinham coroas menores para ocasiões específicas. Alguns desses itens imperiais resistiram até os dias atuais.
A grande coroa imperial da Rússia.
Domínio públicoEsta é a coroa mais conhecida do Império Russo e foi feita para a coroação da imperatriz Catarina 2° em 1762. Ela é adornada com quase 5.000 diamantes, 75 pérolas indianas naturais e um enorme espinélio. A moldura é feita de prata.
Coroação de Catarina 2°. Pintura de S.Torelli.
Museu RussoAlém das coroações reais, ela também era usada em cerimônias formais — a última delas, quando Nicolau 2° inaugurou a Duma de Estado, em 1906.
A coroa faz parte hoje da coleção da Câmara de Arsenais do Kremlin de Moscou, juntamente com outros itens importantes de vestimenta imperial, como o Cetro e o Orbe Imperial. A coroa original só pode ser vista em Moscou, e nunca deixa o museu.
Uma réplica da coroa foi feita em 2012 para exibição em outros locais, inclusive no exterior. A réplica não fica para trás, porém: é de ouro branco, pérolas australianas e rubelita, e é cravejada com diamantes da Iakútia - cerca de 11 mil pedras.
A coroa menor era colocada na cabeça da consorte do imperador ou imperatriz durante sua coroação. A tradição surgiu com Catarina 2°. Além disso, a coroa era considerada propriedade privada e podia ser herdada.
Coroas menores costumavam ser transformadas em novas peças e joias, mas esta sobreviveu até os dias atuais. Não há consenso entre os especialistas sobre quem era o proprietário da peça.
Alguns historiadores acreditam que a pequena coroa foi feita em 1801 para a consorte de Alexandre 1°, Isabel Alexeievna, mas há quem diga que ela foi feita em 1856 para a consorte de Alexandre 2°, Maria Alexandrovna.
Ela é muito menor que a Grande Coroa Imperial, mas tem formato semelhante: também é feita de prata e é ricamente decorada. Ela tem 48 diamantes grandes e 200 pequenos (para os padrões tsaristas). A Coroa Imperial Menor também está hoje na coleção da Câmara do Arsenal.
A coroação de Alexandre 2°. Pintura de Mihály Zichy.
HermitageÉ curioso que, após a Revolução de 1917, quando os joalheiros fizeram um inventário dos tesouros reais, a lista incluía outra pequena coroa — mas ela, muito provavelmente, foi desmantelada e vendida em algum leilão europeu.
Esta coroa hoje fica guardada em Washington, D.C.
Hillwood museumEsta pequena e elegante coroa de veludo cravejada de diamantes era parte de uma vestimenta própria para casamentos. Ela foi usada por Elizabeth Feodorovna, irmã da última imperatriz, Alexandra Feodorovna, no casamento da primeira, em 1884, e também por outras mulheres da família Romanov.
Muito provavelmente, a coroa não foi desmanchada porque vários casamentos de grão-duques ocorreram no final do século 19. Além da coroa, a noiva também usou um diadema com um diamante rosa na cabeça e brincos de cereja.
Casamento do Grão-Duque Serge e da princesa Isabel de Hesse, 1884.
New York Public LibraryA coroa não era considerada particularmente valiosa pelos joalheiros após a Revolução, por isso foi vendida ao antiquário Norman Weiss, em 1926. Posteriormente, ela surgiu em leilão várias vezes e adornou as cabeças de modelos da Cartier e até mesmo de vencedoras de concursos de beleza.
Em 1966, ela foi comprada por Marjorie Post, uma colecionadora de arte russa. Hoje, a coroa é mantida no Museu Hillwood, que ela instalou perto de Washington.
Coroa de Anna Ioánnovna.
Museus do Kremlin de MoscouEsta sobrinha de Pedro, o Grande, governou de 1730 a 1740 e era famosa pela queda que tinha pelo luxo. A enorme coroa de prata e ouro foi feita para sua coroação.
Ela é adornada com 2.500 diamantes e rubis. Parte deles foi retirada da coroa de Catarina 1°, assim como sua maior pedra, uma turmalina. A coroa também tinha, inicialmente, cerca de 100 pérolas, mas, de acordo com um inventário feito após a morte da imperatriz, elas desapareceram.
Imperatriz Anna Ioannovna. Retrato por Louis Caravaque, 1730.
Galeria TretiakovNão é claro por que ela não foi desmanchada após a cerimônia. Mas ela também foi usada em 1829 para a coroação do imperador Nicolau 1°, em Varsóvia, capital do Reino da Polônia, que fazia parte do Império Russo após a guerra com Napoleão. Após a cerimônia, a coroa entrou para o acervo da Câmara de Arsenais, onde se encontra até hoje.
Coroa Maltesa de Paulo 1°.
Shakko/Wikipedia (CC BY-SA 3.0)Em 1798, o imperador Paulo 1° assumiu o título de Grão-Mestre dos Cavaleiros de Malta, uma das ordens de cavalaria mais antigas do mundo. O Grão-Mestre era o chefe da Ordem, ocupando o posto mais alto na hierarquia de comando. Como o título foi conferido ao imperador russo, que também era batizado na Igreja Ortodoxa Russa?
É que, em 1798, Napoleão tomou Malta, e os cavaleiros apelaram a Paulo 1° para assumir o comando da Ordem e conceder-lhes refúgio. O imperador concordou e até acrescentou a coroa maltesa ao brasão do Império Russo.
Imperador Paulo 1° da Rússia. Pintura de Vladímir Borovikovski.
Museu da Academia de ArtesNão se sabe ao certo quem fez a coroa do Grão-Mestre: existe a hipótese de terem sido os joalheiros da corte russa, mas também de ter sido feita por ourives malteses. A coroa é de prata dourada e tem a forma de bandas em arco que sustentam uma orbe com a cruz de Malta.
O sucessor de Paulo 1°, Alexandre 1°, renunciou ao status de Grão-Mestre e removeu a coroa maltesa do brasão de armas, embora os cavaleiros continuassem a viver na Rússia até 1834, quando estabeleceram seu quartel-general em Roma. A coroa foi mantida na Câmara de Arsenais a partir de 1827.
O brasão da cidade de Gatchina, perto de São Petersburgo, mantém a cruz maltesa até hoje, e esta é a localização do Palácio do Priorado, a residência da Ordem.
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